terça-feira, 22 de março de 2011

Personalidade digital- o que é?

A personalidade digital


O que é a personalidade digital? Esse é um termo útil? A expressão foi usada na última década pelo menos, para descrever a impressão deixada por uma pessoa na Internet. Dr. Roger Clarke a descreveu bem no resumo de um dos primeiros artigos a respeito [3]
A personalidade digital é um modelo do indivíduo, o qual é estabelecido por meio da coleta, armazenagem e análise de seus dados. É um conceito muito útil e também necessário para chegar a compreender o comportamento do novo mundo interligado em rede. Este artigo apresenta a noção geral, rastreia suas origens e dá exemplo de sua aplicação. Sugere que a compreensão de muitos aspectos do comportamento em rede será facilitada ou aprimorada com o uso desse conceito.
A personalidade digital é também um fenômeno potencialmente ameaçador, degradante e talvez até mesmo socialmente perigoso. Uma área na qual seu lado mais ameaçador deve ser levado em consideração é a da vigilância de dados, isto é, o monitoramento de pessoas por meio de seus dados. A vigilância de dados é um meio economicamente eficiente de exercer o controle sobre o comportamento de indivíduos e sociedades. Discute-se a maneira pela qual a personalidade digital contribui para o entendimento de determinadas técnicas de vigilância de dados, tais como perfil e identificação de computadores, delineiam-se assim os riscos inerentes à monitoração das personalidades digitais.
Onze anos depois, chegamos perigosamente perto do ponto a que ele se referiu. Clarke identifica a personalidade digital como uma construção útil para o entendimento da sombra que deixamos no mundo digital do ciberespaço e faz a distinção entre personalidades passivas, ativas e autônomas. Ele a define como: a personalidade digital é um modelo da personalidade pública de, baseado nos dados informatizados, e mantido por transações, se destinando a servir de substituto para o indivíduo.
Úteis como uma construção para identificar indivíduos com o propósito de se referir a eles (como exemplo, os endereços eletrônicos), ou para identificá-los como pessoas autorizadas a desempenhas funções (pagar contas online, organizar viagens), os bits desenvolveram logo uma série de hábitos e personalidades tão reais quanto os seres humanos que estão por trás deles. Os governos e as empresas agora contam com essas personalidades como uma “forma de conhecer seu consumidor” e provas ou personalidades eletrônicas logo se tornaram ainda mais verdadeiras do que os indivíduos que as animam. No entanto, as falhas de segurança agora demonstram como essa confiança pode ser mal empregada. O “phishing” [4] e os ataques de “pharming”, ou o envenenamento de mensagens eletrônicas e sítios Web levam pessoas a dar informações pessoais via Internet, que então serão utilizadas pelos fraudadores para persuadir uma empresa, o governo ou o banco de que eles são a pessoa em questão. Ainda mais sofisticados no ambiente atual, os ladrões estão também colocando amálgamas de dados para criar perfis pessoais fictícios, ainda que prováveis.
Fora do ciberespaço, pode haver qualquer uma dessas criações em funcionamento, em geral com fins criminosos, mas nem sempre. Colocando-se como crianças em salas de bate-papo virtual, policiais conseguem pegar aliciadores de menores. Compradores misteriosos estão testando os serviços de atendimento ao consumidor. Adultos em todo o mundo estão criando personalidades em sites da Internet de busca de parceiros, para ocultar sua verdadeira identidade até alcançarem o nível de confiança desejado com os estranhos com quem conversam.
À medida que nos encaminhamos para um mundo no qual a vigilância digital dos seres humanos está crescendo exponencialmente, questionar o rumo sendo tomado. Em breve, chips RFID nas roupas que usamos e nos nossos cartões de identidade farão a comunicação com o ambiente em que habitamos, assim como transmissores embutidos rastrearão nossos movimentos. Se alguém conseguir interferir nessas pistas com sucesso, um ser humano real lutará na justiça com uma personalidade digital, cuidadosamente construída fora do controle do indivíduo interessado. Tentativas de ligar essas pistas ao indivíduo por meio do uso de biométricas podem resolver o problema ou podem na verdade piorá-lo. Especialistas em liberdade civil se preocupam com o abuso das leitoras biométricas no nosso dia-a-dia, argumentando que elas não são confiáveis e produzem muitos resultados falsos, tanto positivos quanto negativos. Um recente experimento para “enganar” as leitoras de impressões digitais, retirando as digitais de uma pessoa e aplicando-as em dedos falsos modelados em gel, confirmou essa suspeita, mas contribuiu pouco para frear a disseminação dos sistemas [5].
Roger Clarke, em seu artigo sobre a personalidade digital, apontou a construção junguiana do ser, com a anima voltada para dentro com face para o inconsciente e a persona, com face para o mundo. À medida que a personalidade digital cresce em importância social e econômica, ela atrai a atenção de criminosos. Frente à luta digital corpo-a-corpo pelo controle da própria personalidade individual, para não deixá-la nas mãos do mercado ou dos criminosos, o que está acontecendo com a anima? Na verdade, o indivíduo é forçado a se desassociar de sua personalidade, apenas para lidar com as expectativas de uma vigilância e de uma ameaça constantes, que estamos agora sofrendo e que não trazem bons presságios para nossa saúde coletiva.

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